terça-feira, 13 de outubro de 2009

REAÇÃO

Chega. Ergui minha preguiça daquele gramado verdinho, e não quero mais ficar assistindo a vida. Quero agora aumentar a bagagem do dia a dia. Não posso apresentar a mala vazia lá na porta do paraíso anunciado. Ah, metáfora minha, fantasia desenhada no imaginário... isso faz bem, às vezes. É bom brincar de pintar sonhos, aquele faz-de-conta de criança. Muito fiz de conta! Pudera, era só o que me restava. A realidade era feia e cinza. Então, criava imagens coloridas nas noites escuras do meu quarto infantil. Longas noites, que duraram anos e anos. Assim, programando nas noites, fui inventando meus dias, dando-lhes o colorido necessário, sem o qual a vida ficaria muito mais triste. Criei, assim, minha alegria própria de viver. E venho vivendo. Sempre de mãos dadas com o sonho, embora adiado muitas vezes, deixado de lado por esta ou aquela desculpa, mas cumprindo sempre um papel fundamental: preenchendo as lacunas das tristezas diárias.
Será estratégia de adulto pra suportar a rotina?
Pode ser.
Mas sabem que funciona?

INÉRCIA

Hoje não tô a fim de matraquear, nem filosofar a toa.
Queria deitar na grama verdinha e ficar até o sol se despedir, e o véu da noite descer. Nem sei dizer porquê. Acho que é preguiça, ou cansaço das pessoas e seus conselhos chatos, pincelados de moral falida e de rabugice.
Queria... nem sei mais o que queria. Acho que queria apenas ficar e assistir a vida avançando, existindo, sem medo do próximo.
Próximo que ameaça o próximo, sempre.
Desejo simples e impossível...
O relógio não permite.
O chefe não permite.
O próximo não permite.
Pior que tudo: eu não me permito!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

E então?

Gente, como é chato estar em meio a uma discussão, onde, por mais que se fale, não se consegue fazer o outro nos entender! Diz-se uma coisa, a criatura entende outra. Tem-se vontade de arrancar cada fio de cabelo, grunhir, esmurrar a parede... enfim, surgem então os desagradáveis "eu isso", "tu aquilo"... e deteriora-se pouco a pouco a relação de afeto. Nesse digládio incessante, cada um acha que o outro está errando, não está enxergando, ou não está aceitando a verdade dita, e certamente por orgulho. "Claro, " - tem-se a certeza, - "é orgulho!" Dessa bola de neve, ergue-se um muro sombrio, difícil de transpor, e os seres vão encurtando seus momentos de convivência feliz, e além disso vão armazenando mágoas profundas ao longo dos anos, que nem mesmo eles conseguem depois explicar como chegaram ao ponto de perder o carinho que os unia. E um vazio se forma nas vidas, nas relações familiares e nas de amizade. As discussões até acabam, pois antes disso a conversa já acabou! Eu gostaria de saber o que fazer pra evitar a tristeza de assistir ao levantamento desse muro que nós mesmos erguemos, e que deixará do lado oposto pessoas que muito amamos e que queremos muito perto de nós, independentemente de pensar dessa ou daquela maneira. Não gostaria de descobrir o que fazer, quando fosse tarde demais, quando os sentimentos estivessem inevitavelmente vazios e nos tornássemos seres estranhos... e tristes!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Novos Tempos Difíceis

Há um quê de neurose no ar... ela se espalha mais a cada dia, a cada notícia no jornal, no telejornal, a cada estatística atualizada sobre internados e mortos... E a gente tem a impressão de que assiste a uma volta aos tempos da Idade Antiga e Medieval, quando as epidemias varriam os seres da face da terra, às pencas. E a explicação era: ira dos deuses! Causa aceita, na época, com unanimidade, sem questionamentos. É, parece, então, que os deuses voltaram a lançar sua ira, desta vez sobre os mortais do século XXI. Século XXI! Pessoas morrendo de gripe! Aprendemos pouco de lá pra cá! O medo está no olhar dos quantos vemos pelas ruas, cada vez que alguém tosse ou espirra, muitas vezes até em razão de uma simples irritação momentânea de garganta ou vias nasais. Nada mais de beijinhos de amigos, de abraços apertados, até apertos de mãos são evitados... Não se para mais ao passar por conhecidos, se houver um jeito até finge-se não vê-los, pra evitar aquele perigoso contato em que o maldito viruzinho certamente irá atacar... Quando não se consegue evitar o encontro, fica-se ali: um "oi", mal pronunciado, feito estátua, evitando chegar muito perto. A gente se sente meio imbecil, muito imbecil, pra dizer a verdade, mas o dilema da dúvida, vence. Me pergunto até quando teremos que observar este quase isolamento a que a moléstia nos obriga... Tudo parece um exagero burro, mas e se não for? Neste momento, quem sabe tudo sobre esta gripe? As autoridades, na tentativa de não alarmarem a população, respondem às perguntas, ora com subterfúgios de " é gripe normal, como as outras que matam também, blá, blá, blá", ora obrigando-se a divulgar os fatos antes omitidos, a fim de que os cuidados sejam afinal observados, até mesmo no sentido de prevenção. Não adianta querer tampar o sol com a peneira, há que se colocar todos os pingos nos is, já citando chavões antigos e chatos, mas verdadeiros. Mesmo que a neurose se instale, a informação deve ser divulgada integralmente! São vidas humanas em jogo. Neurose ou não, vamos levando, vivendo... os que escaparem, claro!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Reestruturando

Acho até que não vai ser mau, não. Vejo que a capacidade de conformismo ante o irremediável que tem o ser humano é admirável. Quando se cria raízes naquele solo tão desejado, a tendência é pensar: quero morrer aqui! Mas aí a casa cai e a gente se vê, de repente, na iminência de perder o bem que tanto esforço custou... E a gente emperra, teima, e nada mais serve, e nada mais existe além dessa conquista. Então, as pedrinhas vão rolando, rolando no caminho e, de repente, após repetidos tropeços, se vê que nem tudo é durável até que a morte nos leve, mas que pode ser infinito enquanto durar, como cantou Vinícius. Vale pra tudo! Foi bom enquanto durou! Hora de mudança é hora de se refazer a estrutura da vida de acordo com as regras impostas pelos acontecimentos de algumas perdas, que podem trazer outros ganhos. Urge, então, um transplante de raízes. É a atitude obrigatória do momento agonizante. Deixar pra trás desejos antigos, pousar os olhos em outros, e novos, e, consequentemente, conquistar horizontes mais calmos. Encher de paz o caminho a seguir... pra vida fluir, pra saúde não sumir! É o surgimento de novas raízes, em novo solo. Por que não? Já creio que será salutar, enriquecedor até! Novos ares, novas imagens, e melhor, o fim do arrocho! Mais a sensação de leveza que o desprendimento causa. Afinal, não foi tão difícil!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

CAFÉ E SOLIDÃO

No Boulevard
o café acabou...
Não posso flutuar na fumaça do cigarro
porque a Portaria Municipal
me proíbe!
Aguardo, então, o toque do celular,
que não vem! Silêncio gritante no ar...
O café não amenizou a angústia,
nem com todo o chantilly...

Como estão confusos os teus caminhos.
Tanto quanto os meus.
Solidão companheira...
quase sempre.
Minha única realidade são os sonhos,
enquanto sonhos... somente enquanto!

O burburinho do shopping, somado a essa
espera, me deprime um tanto.
Vejo tudo à volta como meros detalhes, e somente
na vida das outras pessoas...
Porque sou um ser à parte, à margem desse quadro.
Um ser qualquer que, esporadicamente,
tem um lugar nesse espaço de todos,
apenas esporadicamente.
Não mais...

ATITUDE

Amanhã vou contrariar meu velho e
desgastado biorritmo.
Vou levantar bem cedo, prometo,
tomar um café preto,
fumar aquele free light criminoso e traiçoeiro,
e mergulhar nas águas frias do mar...
que é pra arejar e arrepiar o pensamento;
pra assustar a dor
que me assusta e me testa todo o dia.

E quando a manhã quiser me deixar, será tarde,
deixá-la-ei primeiro, e acenarei com pose,
e irei...

Ela que sempre me devora
não terá chance, não mesmo,
devorá-la-ei primeiro.

Portanto, amanhã, dor e manhã, - ouçam -
o dia será meu,
como sempre o são as noites de verão!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Preservando minha ESSÊNCIA...

... esta que se vai esquecendo pelo caminho arduamente trilhado, quando quase deixamos de pensar por nós mesmos. Esta palavra pensada no silêncio da gente, escondida, preservada, guardada a sete chaves, sem permissão pra ser revelada. Pensamentos caros, só pensamentos, alguns estampando o sorriso na face, outros fazendo tremer o corpo à lembrança, e há ainda os que fazem chorar. Não é a lei da vida? Um grande cesto de variedades que compõe o cotidiano interno de cada ser... Não é privilégio de poucos, não. Todos guardam segredos inconfessáveis. Cada ser humano é tão humano a ponto de não fugir dessa regra. Não creio nas pessoas que dizem: minha vida é um livro aberto. Nenhuma vida é um livro todo aberto! Lá no fundo de cada túnel, nem que seja um único fato inconfessável há... com toda a certeza, deve haver uma folha em branco, escrita apenas na memória do autor. E qual a vantagem de se ser um livro aberto? Arre! Só vejo desvantagens... quero ter minha individualidade, quero guardar alguns tantos segredos, com os sentimentos que lhes convêm, e considerar a minha opinião sobre eles, sem condicioná-los à opinião alheia. Necessito reter em mim sua pureza, porque no meu conceito e apreciação serão puros, evidente, pois pra mim não minto. Se os expuser, estarão imediatamente sujeitos ao contágio da falsa moral reinante nesse mundinho nosso, e aí talvez eu já nem saiba mais quem sou! Talvez eu exagere um pouco, vá lá, mas aprecio divagar, flutuar no tempo, medir a razão e pesar os sentimentos. Assim, secretamente, apenas de mim para comigo.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

PENSANDO BEM

Tem dias que a gente tá insuportável. Diz tudo que vem à telha, sem medir consequências, sem nem pensar se é aquilo que realmente se pensa. Parece apenas um cuspir de recalques incrustados, embolorados em nossas entranhas. Ou a revolta de não se poder admitir que se odeia perder uma discussão, uma causa. Arre! Coisa feia... coisa que causa um mal-estar irreparável, já que não se pode desdizer a palavra dita, por mais que se tente, parece que ainda fica pior. A ofensa como que se materializa, cria forma, se agiganta. E a gente fica assim, pequenininha, o retrato deplorável do arrependimento. Nem perdão nessa hora apaga a culpa, porque se sabe que normalmente quem perdoa, afirma: "Até perdoo, mas não vou mais esquecer!" Puxa, mas o perdoar necessita do esquecer... é, não se pode errar mesmo, não nos perdoam, e o pior é que nem nós nos perdoamos. Quando o nosso embate é com aquela pessoinha que é tudo na vida da gente, a dor fica tão doída... Tão doída que a gente passa desesperadamente a querer compensar o outro pelo desgosto que causamos. Então, é sim pra cá, sim pra lá... Tantos embates, que à vida vão se somando mágoas e culpas, tornando-nos mais um cliente do feliz terapeuta. Que seria dele se não fosse nossa neurose? E como aprenderia a curar suas próprias? Evidente, precisa da experiência própria pra converter no ensinamento a ser aplicado. Sabe Deus quanto tenho tentado não explodir por ninharias, mas há aquele dia em que o copo enche e a gente sucumbe. Se curasse nosso mal, tudo bem, mas não cura... cria outro mais cruel, por se tratar, quase sempre de quem muito amamos!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

SEM ATITUDE

Junho chegou de novo! Veio correndo como a dizer: "Te mexe, a vida urge!" Tá, mas por onde começo?! Deixei lá atrás minhas atitudes, meus sonhos rotos e amarelados, e minhas risadas francas. Minha busca estancou em alguma parte do caminho, fragmentos espalhados, misturados às pedras encontradas. Algumas transpomos, outras nos derrubam, isto é inegável. O que aconteceu, nem sei. Só sei que a vida correu, correu muito, basta ver que junho chegou mais uma vez. E ainda me encontro em alguma parte daquele caminho, assim, lembrando o que não foi, lamentando o por que de não ter sido. Triste fim de tantos projetos arquitetados, apenas arquitetados, e nenhum realizado de fato. E sabe o que tô pensando, sinceramente? Que não há mais tempo... "Cuidado, criatura, isso cheira à velhice." Tô sempre repetindo que a velhice tá na cabeça, e que juventude também! "Então, que é isso agora? Vai escolher o quê?" Confesso que tô confusa. Bastante. Quero dizer que ainda há tempo pra fazer muito, que sempre há tempo quando se quer muito algo. E digo que tenho que começar... começar buscando lá atrás minhas atitudes parasitadas no tempo, reorganizando meus sonhos desfeitos , recuperando a risada franca, que se calou, deixando em seu lugar sorrisos tímidos incolores... Urge uma atitude. Mas, hoje o sol até já se foi, e a noite vem caindo. Só amanhã...